segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Trechos de artigos/ diversos autores

“O maior perigo para os artistas que vivem em locais mais afastados do eixo Rio-São Paulo é a preocupação com as modas ou tendências que pensam comandar o rumo das artes. Não é esse o caso de Nassar. Ele faz, ao mesmo tempo, um trabalho original e distante dos provincianismos”.

“Sua pintura usa apenas a inesperada geometria de objetos insólitos para construir uma nova paisagem, em que poucos elementos sejam bem distribuídos no espaço. É desnecessário saber algo sobre os brinquedos do Pará para perceber a força das suas telas”.
Casimiro Xavier de Mendonça, crítico de arte/Revista Veja, 8 de fevereiro de 1984.


“Emmanuel Nassar extrai da festa a alegria das barracas e brinquedos. Seus quadros numa exposição podem ser a metáfora do arraial da santa no Círio, barracas, luzes, roletas, pombinhas, tudo é pretexto para criar uma giranda de círculos, triângulos, losangos, linear e arabescos, para estabelecer uma giranda de azuis, vermelhos, rosas, amarelos, brancos. Nassar torna visível a sabedoria que existe na ingenuidade (ou vice-versa?) deste mundo. Este é o saber do artista. Transforma tudo em alegria da cor, da forma e dos símbolos”.
Paulo Herkenhoff, crítico de arte/O Liberal, 28 de outubro de 1984.


“São inconfundíveis seus trabalhos, numa linguagem de formas claras, agudas, esboçadas a largos traços, que reproduzem eficazmente com fortes acentos de cor, motivos abstratos e objetuais".
Karin Stempel, crítica de arte/catálogo da exposição “Brasil Já” - Alemanha, 1988.


“... a manipulação e ordenação desse vocabulário imagético foram empreendidas com argúcia e sensibilidade através da pintura de Emmanuel Nassar. ”
Aracy Amaral, crítica de arte/catálogo da Bienal de São Paulo, 1989.


“... do curto-circuito entre a imagem e o conceito, às vezes engendrando formas inesperadas, mas pertinentes, o pintor sulca a contemporaneidade".

“Oficina mecânica, paraíso dos “bricoleurs”, entraste gloriosamente no Mundo das Idéias graças ao semiótico Emmanuel Nassar”.
Nelson Aguilar, crítico de arte/ Folha de São Paulo, 1989.


“... essa consciência de trazer dentro de si elementos das duas tradições construtivas, a erudita e a popular, e não pertencer propriamente a nenhuma delas, foi o que permitiu à produção de Nassar estabelecer um diálogo de fato original com (e entre) aquelas duas tradições, único no Brasil. ”
Tadeu Chiarelli, crítico de arte/Revista Galeria, 1989.



“A economia de imagens na pintura de Emmanuel Nassar não pode ser traduzida como restrição de informações. O acabamento intencionalmente mal delineado das figuras toscas sobre o fundo geometrisado sem precisão e, o mais das vezes, monocromático e chapado, traz à tona a singular sensibilidade do artista face ao universo popular brasileiro, um tanto debochado, irreverente e até simplório”.
Stella T. de Barros, crítica de arte/Revista Galeria, 1992.


“Emmanuel Nassar é perfeccionista do vago – é objeto de sua percepção que ele leva à sério como fenômeno estético, como expressão de uma cultura localizada do outro lado da de aprovação geral”.
Karin Stempel, crítica de arte/catálogo da Exposição Nassar/Luiz Braga - Köln, 1992.


“Nas obras do artista plástico Emmanuel Nassar existe uma eficiente metáfora da precariedade brasileira. O mesmo tipo de metáfora que Caetano Veloso flagrou ao cantar, em “Fora da Ordem” – “ Aqui tudo parece que ainda é construção e já é ruína”.
Angélica de Morais, crítica de arte/O Liberal, 1992.


“O humor, na sua depuração em ironia, não retroage contra as suas fontes, mas se propõe, como uma charada, ao público. É esse o desafio, proposto por Nassar, de descoberta do Outro”.

“Sua obra aponta permanentemente para a potencia do simples”.
Paulo Herkenhoff, crítico de arte/catálogo 45a. Bienal de Veneza, 1993



“Uma das facetas mais sedutoras da pintura de Emmanuel Nassar é o tom e o sabor da ironia de suas figuras, que ele busca com sensibilidade no desvalido imaginário popular da periferia da grande cidade. Nas imagens miúdas e rarefeitas, sobre o fundo da tela imprecisamente geometrisado, ele capta com intuição aguda o ambiente que o circunda”.

“Em nenhum momento a pintura de Nassar deixa de aludir à idéia de uma interpretação do Brasil. Ele revive, através de um material iconográfico reduzidíssimo, a interpretação do nosso modo de ser e agir, traduzindo surtos desgarrados da condição amazônica, numa apropriação crítica que nos fornece uma chave para a compreensão da cultura brasileira”.
Stella T. de barros, crítica de arte/catálogo da exposição Thomas Cohn, 1994.






“Na pintura de Emmanuel Nassar, o procedimento pictórico causa um estrago desconcertante nas deformações das regras elementares da construção geométrica, ao mesmo tempo em que se apropria de sinais do cotidiano da cultura popular, da artesania e das descambadas soluções técnicas das populações afastadas dos níveis de consumo da sociedade afluente. Articula perversamente os resíduos desse mundo circular estigmatizado, onde o novo não tem vez, e redimensiona a diferença ao reafirmá-la como construção de uma atualidade contundente. Suas imagens não qualificam um olhar que se apropria de uma estilização do exótico, mas resgata valores, ao mesmo tempo em que homologa as contradições da contemporaneidade, apontando para os descompassos da hegemonia etnocêntrica da arte. Esta é talvez é a questão mais crucial da produção artística que hoje resgata, sem complacência, uma visualidade plástica popular”.
Stella T. de Barros, crítica de arte/catálogo da exposição Apropriações Antropofágicas - Itaú Cultural, 1997.


“Nas pinturas de Nassar, a verdade das cores constituindo o campo da pintura é problematizada pela proposital insegurança do traçado e/ou pela inclusão de elementos decisivamente alheios à ordem construtiva. Mesmo as iniciais do nome do artista (“E” e “N”) absolutamente não querem atestar a bidimensionalidade do plano (tão cara à tradição construtiva), não. Elas, incorporadas à pintura, tendem a preenche-la de um sentido simbólico, autobiográfico mesmo, praticamente inexistente na arte construtiva de origem erudita.
O que Nassar pretende com sua pintura? O mesmo que seus colegas de geração, desestabilizar o consagrado, trazer lirismo e humor à uma tradição; negar a noção de arte como linguagem capaz de oferecer ao expectador uma mensagem previsível e apriorística da realidade que o cerca”.
Tadeu Chiarelli, crítico de arte/catálogo da exposição Arte Pará, 1997.


“O paraense Emmanuel Nassar é o pintor por excelência da metáfora da precariedade brasileira e do convívio criativo entre arte erudita e popular – o que ele denomina de “civilização da gambiarra””.
Angélica de Moraes, crítica de arte/Estado de São Paulo, 19 de janeiro de 1999.


“O tom ingênuo da pintura de Nassar, a sua pseudopoesia provinciana, é um despiste para a mordacidade. Sua ironia à distância é a mesma, com doses sutis, mas premeditadas, de humor. De certa forma, ele ao mesmo tempo lamenta e valoriza o primitivismo do norte do Brasil, como os americanos, simultaneamente, lamentavam e endeusavam a subcultura de massas, com o mesmo cinismo”.
Ligia Canongia, crítica de arte/catálogo da exposição na Galeria Laura Marsiaj, 2000.